27/02/17

Presidenciais em França. A vida difícil da esquerda (actualizado)

O candidato socialista às Presidenciais francesas, Benoît Hamon, celebrou um acordo politico com o candidato dos ecologistas.Este acordo traduz um primeiro passo no sentido de existir uma candidatura única da esquerda, capaz de permitir a passagem à segunda volta e uma eventual vitória sobre Le Pen.
Falta agora convencer Melanchon o candidato da auto-proclamada "esquerda insubmissa" que se mostra renitente a retirar a sua candidatura.
Desconheço a possibilidade de esta unidade das esquerdas se concretizar, mas presumo que sem ela será impossível evitar que a disputa se faça entre Le Pen e Macron, um cenário sobre o qual o João Viegas já aqui reflectiu.
Hamon passou por Portugal e reuniu com o PS e o BE - não reuniu com o PCP - mostrando interesse na experiência de colaboração dos socialistas com as esquerdas habitualmente afastadas do poder. Nessa ocasião Hamon - apoiado economicamente por Piketti, entre outros - mostrou vontade de reformar a UE e o Euro tecendo considerações fortemente criticas sobre o Tratado Orçamental. Vontade de alterar a forma como os socialistas franceses e europeus governaram colocando os interesses dos mercados à frente dos interesses das pessoas. Vontade que faltou a Hollande com as consequências que se conhecem.
Não sei, repito, se Hamon irá ser bem sucedido. Mas agrada-me que ele tenha chegado ao poder no PS francês. Isso mostra que os militantes socialistas estão muito mais à esquerda do que os seus dirigentes. Mesmo que perca espero que inicie um caminho que contribua a prazo para reformar a social-democracia europeia e que traga de novo os objectivos da democracia, do desenvolvimento e da justiça social para o centro da actividade politica. Que dê aos cidadãos a possibilidade de serem eles os actores da transformação da sociedade e do seu progresso.
Nos tempos que correm há uma realidade que emerge e que os acontecimentos no Reino Unido, na França e em certa medida na Holanda, testemunham: quem liderou o neoliberalismo, e promoveu os efeitos mais nefastos da globalização, ou capitaliza em benefício próprio os sentimentos nacionalistas e xenófobos que florescem no seio dos sectores operários - caso dos conservadores em Inglaterra -  ou cede o passo aos sectores fascistas e neo-nazis como está prestes a acontecer em França.
A conversa da reconfiguração da esquerda que animava as melhores aspirações dos ideólogos que viam  o Brexit e a eventual implosão da UE como passos intermédios nessa caminhada aguarda por melhores dias. As mudanças no sentido de voto do eleitorado trabalhista em Inglaterra aí estão para o testemunhar. Nem o facto de o líder ser o mais à esquerda na história do partido e no contexto dos partidos socialistas europeus impede que os trabalhadores lhe virem as costas atraídos pelos cantos de sereia do nacionalismo e do protecionismo económico.

ACTUALIZAÇÃO(28.02.2017)- Entretanto as conversações (?) entre o candidato socialista e  Jean-Luc Melanchon resultaram na confirmação de que haverá candidaturas separadas. Diminuem assim fortemente as posibilidades de a esuqerda estar presente na segunda volta das eleições presidenciais. Acresce o facto de membros do governo socialista e deputados do mesmo partido estarem a declarar o apoio a Macron.

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